Torcedores, políticos e órgãos dirigentes ficaram furiosos depois que 12 dos maiores times de futebol da Europa anunciaram planos de se separar das competições europeias de futebol e formar sua própria Superliga – um movimento que representa uma ameaça existencial ao esporte mais popular do mundo.
Aqui está um resumo do que você precisa saber sobre os planos e por que o tema é importante.
O que é?
A Superliga é potencialmente a maior mudança no mundo dos times de futebol europeus.
No domingo,18, 12 dos maiores (e mais ricos) clubes de futebol do mundo anunciaram a intenção de lançar um Superliga Europeia (ESL).
A liga contaria com 20 clubes, entre elas 15 equipes fundadoras, que seriam membros permanentes. Outros cinco clubes seriam qualificados anualmente com base em suas conquistas na temporada anterior.
Não está claro se esses cinco times seriam rebaixados da ESL, independentemente do desempenho.
Quem está envolvido?
Os clubes envolvidos incluem os tradicionais “Big Six”, os seis grandes da Premier League inglesa – Arsenal, Chelsea, Manchester City, Manchester United, Liverpool e Tottenham Hotspur.
Os gigantes espanhóis Real Madrid, Barcelona e Atlético Madrid também estariam presentes, ao lado de times italianos do AC Milan, Inter de Milão e Juventus.
O vencedor da Liga dos Campeões de 2020, o Bayern de Munique, não faz parte do projeto. O presidente do Borussia Dortmund, Hans-Joachim Watzke, confirmou que o clube era contra a formação da ESL.
Bayern e Dortmund estão representados na diretoria da Associação Europeia de Clubes e, de acordo com Watzke, as duas equipes da Bundesliga (o campeonato alemão) apoiam um novo formato da Liga dos Campeões, que estava programado para ser aprovado pela UEFA na segunda-feira (19).
O Paris Saint-Germain também não está incluído. O jornal britânico “The Guardian” relatou que a relutância do time francês “pode ser devido às propostas de regulamentos financeiros rigorosos na nova competição que seriam semelhantes ao Regulamentos de Fair Play Financeiro da UEFA”.
Por que agora?
O momento pode ser a chave para entender o anúncio, já que a UEFA estava preparada para divulgar os detalhes da expansão do formato da Liga dos Campeões hoje, delineando um número crescente de jogos de futebol em um calendário já congestionado.
Jornalistas e analistas de futebol especularam que a declaração de planos curiosamente cronometrada para a ESL poderia ser um subterfúgio tático para as negociações com a UEFA, usada como uma ferramenta de barganha para discutir uma fatia maior do bolo para os principais clubes europeus.
Do ponto de vista do torcedor, o momento é terrível e equivalente a proprietários explorando um sistema enfraquecido pela pandemia. Tanto o futebol de base quanto as pirâmides mais amplas do jogo nas ligas nacionais europeias estão perdendo dinheiro e sob risco, depois de passar mais de um ano sem a presença dos torcedores nos estádios.
Donos dos maiores clubes do mundo há muito tempo buscam por uma parcela maior das receitas de TV do futebol e outras recompensas financeiras, enquanto a importância cada vez mais inegável do dinheiro no jogo incomoda torcedores mais tradicionais.
Nas últimas décadas, aquisições de vários bilhões de dólares de vários times como Manchester City e Chelsea aumentaram a distância aqueles que têm ou não poder financeiro. É extremamente raro um time fora do pequeno grupo de elite ganhar um troféu da liga principal.
A disparidade levou a rumores da criação de uma “superliga” por anos. Alguns sugeriram que os clubes envolvidos poderiam ser convencidos a arquivar os planos em favor de um compromisso financeiro. Mas o anúncio atual é de longe o mais próximo que o futebol já chegou de uma fuga tão drástica.
Quanto dinheiro está envolvido?
O banco JP Morgan confirmou à CNN na segunda-feira (19) que financiará a proposta de uma nova e dissidente Superliga europeia, mas se recusou a comentar mais sobre a natureza do negócio.
O comunicado oficial dos 12 clubes fundadores afirmou: “Os clubes fundadores receberão uma quantia de € 3,5 bilhões (cerca de R$ 23 bilhões) exclusivamente para apoiar seus planos de investimento em infraestrutura e para compensar o impacto da pandemia de Covid-19.
O novo torneio anual proporcionará um crescimento econômico significativamente maior e apoio ao futebol europeu … e [os pagamentos do fundo de solidariedade] deverão ser superiores a € 10 bilhões (cerca de R$ 67 bilhões) durante o período de compromisso inicial dos clubes”.
Quando isso iria começar?
No comunicado, os atuais clubes envolvidos traçam planos para potencialmente iniciar a competição em agosto de 2021. Todos os clubes no novo formato ESL competiriam entre si no meio da semana, em jogos em casa e fora, semelhante ao formato atual da fase eliminatória da Liga dos Campeões.
Os detalhes divulgados até agora não incluíram uma emissora definida para apoiar a competição, mas o desenvolvimento sísmico tem semelhanças com o estabelecimento da Premier League inglesa – que foi fundamental para a BSkyB se exercer como a emissora doméstica dominante do futebol no Reino Unido.
Com o crescimento de poderosos gigantes da tecnologia e serviços populares de streaming, como Apple TV, Netflix e Amazon’s Prime Video, o novo campeonato da ESL pode oferecer uma oportunidade semelhante para essas plataformas entrarem no mercado esportivo europeu, ao mesmo tempo que aumenta os enormes negócios de transmissão que cresceram nas últimas décadas, formando a base para a riqueza do jogo.
Qual foi a reação?
A condenação das propostas foi generalizada. Um comunicado da FIFA disse: “A FIFA só pode expressar sua desaprovação a uma ‘liga separatista europeia fechada’ fora das estruturas do futebol internacional e que não respeite os princípios mencionados”.
Uma declaração anterior da FIFA em janeiro havia chegado ao ponto de dizer que “qualquer clube ou jogador envolvido em tal competição não teria permissão para participar de nenhuma competição organizada pela FIFA ou sua respectiva confederação”.
Isso significaria que muitos dos melhores jogadores do mundo não poderiam jogar por seus países – e deixariam a próxima Copa do Mundo sem estrelas como Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, Kevin De Bruyne e muitos outros.
A UEFA (que supervisiona todo o futebol europeu) e os órgãos dirigentes da Inglaterra, Espanha e Itália e as principais ligas desses três países assinaram um comunicado.
“Queremos reiterar que nós – UEFA, FA Inglesa, RFEF, FIGC, Premier League, LaLiga, Lega Serie A, mas também FIFA e todas as nossas federações-membro – continuaremos unidos nos nossos esforços para travar este projeto cínico, um projeto que se baseia no interesse de alguns clubes em um momento em que a sociedade precisa mais do que nunca de solidariedade”, diz o comunicado.
“Vamos considerar todas as medidas de que dispomos, em todos os níveis, judiciais e esportivos, para evitar que isso aconteça. O futebol é baseado em competições abertas e mérito esportivo; não pode ser de outra forma”.
A Premier League declarou: “Os fãs de qualquer clube da Inglaterra e da Europa podem atualmente sonhar que sua equipe pode chegar ao topo e jogar contra os melhores. Acreditamos que o conceito de uma Superliga Europeia destruiria este sonho”.
A Federação Inglesa de Futebol afirmou: “É claro que isto seria prejudicial para o futebol inglês e europeu a todos os níveis e irá atacar os princípios da competição aberta e do mérito desportivo, que são fundamentais para o esporte competitivo”.
Sobre os planos para a ESL, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse: “Eles atacariam a alma do jogo nacional e preocupam os fãs de todo o país. Os clubes envolvidos devem responder aos seus torcedores e à comunidade futebolística em geral antes de tomarem quaisquer medidas.
O presidente francês Emmanuel Macron disse em um comunicado, de acordo com a agência de notícia Reuters: “O presidente da República saúda a posição dos clubes franceses de se recusarem a participar de um projeto da Superliga do futebol europeu que ameaça o princípio da solidariedade e do mérito esportivo”. (CNN-Brasil)