Menino Maluquinho vai tomar conta da Netflix
Era uma vez um menino que tinha o olho maior que a barriga, fogo no rabo e vento nos pés”. Assim o escritor e cartunista Ziraldo apresentava seu Maluquinho há mais de 40 anos, e é assim que esse garoto cheio de energia chega nesta quarta-feirA,12, à Netflix. “O Menino Maluquinho”, primeira animação brasileira da plataforma, estreia como um presente em pleno Dia das Crianças.
A primeira temporada, à qual O TEMPO teve acesso antecipado, vem com nove episódios que duram, em média, 12 minutos cada e tem um alvo: crianças a partir de 6 anos. “A gente já sabe que os pais, que são apaixonados pelo livro, vão querer assistir com seus filhos. Então a gente também tem que pensar nesses pais, trazer autenticidade, trazer o Menino Maluquinho que eles reconhecem, mesmo que tenha elementos novos”, esclarece a showrunner e produtora da série, Carina Schulze.
A história se passa nos dias de hoje, mas isso, segundo o produtor Rodrigo Olaio, “importa muito pouco”. “Esse espírito do que é ser criança se mantém, e como a gente está em uma cidade pequena (a fictícia Benvinda), não foca muito as questões mais urbanas. Os personagens têm celular, mas não andam com o celular direto. As crianças jogam videogame, mas ninguém é viciado em videogame”, explica Olaio.
Os pais do Maluquinho se separaram, a mãe conseguiu um emprego em Benvinda, e o pai também se muda para lá. “O Maluquinho divide o tempo entre a casa da mãe e a casa do pai. Outras crianças que também têm pais divorciados vão se ver na série”, comenta Carina. Claro que o Maluquinho se mete em encrenca na primeira aula na nova escola, quando começa sua amizade com personagens já queridos do público de livros, quadrinhos e filme, como Julieta e Bocão.
Além de vários personagens da obra de Ziraldo, há outros, novos. “A ideia é conseguir trazer mais e mais personagens do multiverso do Ziraldo”, revela Olaio. “O Maluquinhoverso”, brinca Carine Schulze.
Para quem não conhece o Maluquinho, ele chega com um ar familiar. O roteiro lhe dá planos mirabolantes que lembram os de Cebolinha e Cascão, as cores são dignas da paleta de “Jovens Titãs em Ação”, e gírias são populares. As piadas, antecipa Carina Schulze, são muito brasileiras e muito atuais.
A diversidade também ajuda a dar essa nuance de acolhimento ao público. A animação envolveu equipe de mais de 300 pessoas do país todo, e há atores de Minas, Pernambuco, Bahia, Rio, entre outros Estados, cada um com seu sotaque, sua história, seus trejeitos.
“Outra coisa que quisemos foi fazer uma série engraçada para todo mundo, para todas as idades”, diz Carine. Participam dos roteiros comediantes de stand-up e de trabalhos como “Porta dos Fundos” e “Greg News”, além do fato de que os storyboarders criaram piadas visuais. “Tem toda essa comédia que, na nossa opinião, vai ser algo que os adultos vão curtir, vão poder assistir com as crianças e criar os próprios memes”, resume Carine.
Ziraldo teve que ‘acalmar’ os artistas
Ziraldo, cujo talento mal pode ser resumido pela expressão “escritor e cartunista”, acompanhou o projeto de transposição do Menino Maluquinho para o formato de série na Netflix desde o começo, antes da pandemia. Foi ele que deu aval e autorizou que a série fosse realizada.
Mas o gênio, que completa 90 anos no próximo dia 24, fez muito mais que isso. “Ele ajudou também em outro fator, que foi tranquilizar um pouco a equipe, porque era muito intimidador para os artistas”, conta um dos responsáveis pela realização da série, o produtor Rodrigo Olaio. Uma série de animação é feita por um exército de artistas, ilustradores, designers, animadores e outros profissionais que trabalham com animação e com desenho.
“Eles ficavam muito intimidados em pegar uma obra do Ziraldo e mexer. Todos eles têm o Ziraldo em um lugar muito de ídolo da ilustração brasileira”, diz. O mestre, então, levou tranquilidade para a equipe mexer no que fosse necessário. “Foi muito legal. Ele ajudou muito”, revela.
Benvinda é inspirada em Caratinga
A cidade fictícia de Benvinda, onde as aventuras do Menino Maluquinho acontecem, não está em nenhum mapa, mas é fortemente inspirada em Caratinga, na região mineira do Rio Doce, onde Ziraldo nasceu e viveu a própria infância.
“A gente fez até um estudo das árvores que crescem ali, a gente trouxe toda a geografia, a flora e a fauna bem específicas de Caratinga mesmo, todo mundo vai reconhecer esses elementos”, adianta a showrunner e produtora da animação da Netflix, Carina Schulze.
“A gente fazia reunião para falar de como era Caratinga e ficava passeando de Google Maps pela cidade enquanto apontava a câmera e falava ‘tá vendo essa montanha?’, ‘essa praça tem que ter uma palmeira’… Quem é de Caratinga vai entender que é uma referência direta”, revela o produtor Rodrigo Olaio. “Mas também é muito parecida com outras cidades do interior, tanto de Minas Gerais quanto do Brasil”, diz. “A gente trouxe pessoas de Minas, mas é uma coletânea de coisas do Brasil mesmo”, completa. ( O Tempo)