Enchentes se tornam rotineiras
Localizada em extenso vale e cercada por montanhas por todos os lados, a cidade de Caratinga se tornou, ao longo de sua quase bicentenária história, palco de inundações. Os dois rios principais que cortam a cidade e os muitos córregos que vêm de bairros citadinos e alguns distritos não oferecem condições para comportarem o volume de água, com suas calhas apertadas e quase sempre, entupidas de entulhos e lixo. A consequência é sempre, momentos de apreensão de moradores e comerciantes a cada período chuvoso que, em Caratinga, vai de fins de outubro a março do ano seguinte. Danos materiais são somados e se misturam, nas estatísticas, à perda de vidas.
Segundo entendimento geral, a falta de infraestrutura seria a causa principal do problema, porém, a ausência de fiscalização, também, tem sua parcela de culpa. Além disso, obras de concessionárias e empreiteiras contribuem para o agravamento destes problemas. A rigor, não se pode culpar o atual governo pelos problemas que se repetem a cada ano. Ao longo dos últimos 80 anos, a cidade cresceu, a população aumentou e os problemas se multiplicaram. Há registros de enchentes na cidade desde 1949, fenômeno trágico que viria, de novo, nos anos subsequentes. Em tempos mais recentes, a enchente de 1973 é sempre lembrada, bem como as de 2003 e 2004, com milhões de reais em prejuízos.
A enchente de 1973 marcou o início do governo do prefeito Moacir de Mattos e a instalação na cidade dos serviços da antiga Comag, antecessora da atual Copasa. O mérito, se pode chamar assim, a tragédia, foi uma mudança de modelo de construções. Se antes, pequenas casas e espaços comerciais eram a constância em toda a cidade, a partir daquele ano, surgiram construções maiores e que, pelo menos em tese, seriam mais firmes em suas estruturas. No entanto, pouco se fez em termos de infraestrutura.
Não houve em nenhum governo a preocupação de ampliar as redes subterrâneas de captação pluvial com adequação para bitolas maiores. Nem mesmo no centro comercial caratinguense. Nem mesmo na abertura da calha dos rios Caratinga e São João. A única intervenção neste sentido ocorreu no governo Ernani Porto.
Depois de mais uma enchente de grandes proporções, a prefeitura contratou serviços de dragagem do rio Caratinga, o principal curso fluvial, que corta a cidade sul-norte, desde o antigo campo do América até além do bairro das Graças, numa extensão aproximada de cinco quilômetros. A situação melhorou, trazendo certa tranquilidade só rompida em 2003.
Neste ano foi o próprio rio Caratinga a transbordar em, praticamente, toda a sua extensão, chegando a níveis altíssimos, principalmente na área urbana, com destaque para a região da praça da estação a partir do final da avenida Olegário Maciel. Na praça da estação, por exemplo, as águas transbordaram e a inundação chegou a cerca de um metro e meio de altura, atingindo, inclusive a rua Padre Vigilato. No ano seguinte, mais chuvas causaram novos problemas, mesmo em escala menor.
Os céticos podem atribuir à fúria dos céus a repetição dessas enchentes. Outros acreditam que se houvesse preocupação real em reduzir o problema, a situação poderia mudar. Não é o que se vê.
A fiscalização municipal parece indiferente e construções irregulares são vistas por toda a cidade. O exemplo mais visível foi a construção de um edifício comercial de vários andares, cujas pilastras foram erguidas dentro da calha do rio São João. Obras menores, e igualmente, irregulares e perigosas são vistas em todo o perímetro urbano. Há, mesmo. O caso de uma construção praticamente dentro do rio São João, embargada e inacreditavelmente, autorizada na travessa da igreja da Conceição.
A abertura de ruas nos morros e a construção de imóveis, grandes e pequenos nessas áreas é constante.
Até quando a natureza vai continuar a cobrar a ocupação irregular de seu espaço próprio é a grande preocupação da população caratinguense.